Contato com o Administrador : ocantodogalo@gmail.com

Reencontro sob tensão

Galo e São Paulo duelaram pela Libertadores de 1978 apenas 10 dias depois da dramática decisão do Brasileiro do ano anterior, vencida pelo Tricolor nos pênaltis
Serginho fez o gol do empate do Galo contra o São Paulo, na abertura da Libertadores de 1978

Dez dias depois de decidirem dramaticamente o Campeonato Brasileiro de 1977, em 5 de março de 1978, Atlético e São Paulo se reencontraram no mesmo Mineirão para a abertura da Copa Libertadores. A partida foi precedida por um clima de revanche e até pelo receio de uma revolta da torcida atleticana. Na final nacional, vencida pelo tricolor paulista nos pênaltis, depois de 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação, o armador Ângelo, já no tempo extra, teve o joelho atingido violentamente pelo atacante Neca e, quando estava caído no gramado, foi pisado no local pelo volante Chicão. No dia do novo jogo, o atleta alvinegro continuava internado na Santa Casa de Misericórdia, recuperando-se da fratura na perna direita.

A diretoria do Atlético chegou a ser chamada para uma reunião na Confederação Brasileira de Desportos (CBD), no Rio, dias antes da estreia na Libertadores. O presidente do clube, Walmir Pereira, e o da Federação Mineira de Futebol (FMF), Coronel José Guilherme Ferreira, garantiram que a delegação do São Paulo seria bem recebida em Belo Horizonte e a partida seria disputada normalmente, sem nenhuma ameaça de agitação popular. O presidente do tricolor paulista, Henri Aidar (pai de Carlos Miguel Aidar, atual ocupante do posto), chegou a pedir a transferência do jogo para um campo neutro, alegando que a torcida atleticana estaria preparando uma vingança contra Neca e Chicão.

O desembarque dos são-paulinos no aeroporto da Pampulha, na véspera da partida, foi cercado por muita segurança, com grande aparato policial. “Mais polícia que torcida na chegada do São Paulo”, anunciou o Estado de Minas em 16 de março. Segundo o jornal, os poucos atleticanos que foram ao terminal fizeram o mesmo que outras torcidas em recepções a delegações adversárias: insultos de longe, frases soltas e pequenas ofensas. “Alguns chamaram Neca e Chicão de assassinos. Mas, de um modo geral, a descida do São Paulo foi tranquila.”

No Mineirão, os dois jogadores também não foram perseguidos pela Massa, que preferiu incentivar sua equipe. O jogo terminou de novo empatado, mas por 1 a 1: Darío Pereyra, então jogador de meio-campo – anos depois, se consagraria como zagueiro –, marcou para os paulistas. O ponta-direita Serginho igualou, ainda no primeiro tempo. No segundo, os lances foram mais disputados. Segundo o EM, o árbitro Arnaldo César Coelho, o mesmo da final de 10 dias antes, “teve atuação fraca, permitindo o jogo violento”. Como só o líder do grupo avançava à segunda fase, o alvinegro daria o troco ao tricolor, ao vencer no Morumbi e seguir adiante na competição.

IRONIA DO DESTINO - Curiosamente, os dois envolvidos no lance com Ângelo passaram pelo futebol mineiro. Neca havia defendido o Cruzeiro no ano anterior (46 jogos e 17 gols), transferindo-se para o Morumbi em outubro, antes do Brasileiro. Chicão seria o primeiro contratado da administração Elias Kalil no próprio Atlético em 1980, tornando-se o xerife da equipe, com grande apoio da torcida. Em 62 jogos, até 1981, marcou dois gols. Com sua entrada no time, Cerezo passou a atuar mais adiantado e quem perdeu lugar, ironicamente, foi Ângelo, que acabaria trocando o Galo pelo Guarani.

(Texto de Eugênio Moreira para a sessão “Um Momento na História” do jornal “Estado de Minas” de 19/03/2015)