João Leite é o jogador que mais vezes vestiu a camisa do Atlético: 684, entre 1976 e 1992. Desses jogos, 56 foram contra o Cruzeiro, o que faz dele o goleiro que mais disputou o clássico no Mineirão (Kafunga é o recordista no geral, com 75). O primeiro deles foi apenas sua quinta partida como titular, depois de substituir o argentino Ortiz, que não jogou mais pelo Galo depois de levar seis gols em dois jogos da decisão do Mineiro de 1977 contra a Raposa.
Era a sexta partida do Atlético pela primeira fase do Brasileiro, em 6 de novembro. “João Leite: o dia da prova de fogo”foi o título da reportagem de Antônio Melane, publicada no Estado de Minas do domingo do clássico.“Ele sabe que essa mesma torcida que fez de Ortiz um ídolo o crucificou após os seis gols e a perda do título. Sabe que goleiros como Mazurkiewicz, Fábio, Luiz Perez, Veludo, Arizona, Zeca, Edgar, Luizinho, Hélio e tantos outros, após um frango, foram praticamente postos para fora do Atlético e apenas dois ainda são guardados com um carinho todo especial: Marcial e o lendário e sempre querido Kafunga”, dizia o texto.
Aos 22 anos, o belo-horizontino João Leite da Silva Neto ainda tinha pela frente alguns tabus: goleiro jovem não servia para times grandes como o Atlético, prata da casa não fazia milagres na sua posição e ele não seria capaz de chegar até onde chegou Kafunga. Mas não lhe faltava apoio do técnico Barbatana, dos companheiros, do ex-goleiro Mussula, então supervisor, e de Irineu Fernandes, responsável pelas escolinhas do clube.
João Leite também se mostrava confiante em boa exibição. “Tenho certeza absoluta de que vou fechar o gol neste domingo. Sei que serei olhado atentamente pelas 100 mil pessoas que vão ao Mineirão. Que Yustrich (técnico do Cruzeiro) deve ter dado ordens como esta: ‘Chutem, chutem mesmo, pois esse menino deve entrar meio apavorado e vamos tirar proveito disso’. E vou achar até bom acontecer isso, pois dessa forma vou mostrar o meu valor, e porque o Atlético confiou em mim depois que o Ortiz foi embora.”
SEM SER EXIGIDO - O Atlético venceu o clássico por 1 a 0, gol do zagueiro Márcio aos 28 min do segundo tempo, diante de 65.695 pagantes. João Leite não chegou a se destacar, mas passou na prova de fogo na avaliação do EM: “Valeu pela tranquilidade. Passou no teste emocional do clássico. Mas, na verdade, ele não chegou a ser exigido pelo ataque do Cruzeiro”. No entanto, não faltariam oportunidades para que o jovem goleiro mostrasse suas qualidades nos 55 clássicos seguintes.
