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As idas e vindas do cigano Barbatana

O volante começou no Metalusina, de Barão de Cocais, defendeu o Villa Nova, 
depois de passar pelo Bangu, mudou-se para a capital, onde atuou pelo América 
e encerrou a carreira no Galo, no qual viraria técnico

Os torcedores mais jovens se lembram dele como treinador, principalmente no Atlético, vice-campeão brasileiro invicto em 1977, e por ter revelado jogadores como Reinaldo, Cerezo e Paulo Isidoro, mas também pelas passagem por América e Cruzeiro. Antes disso, porém, Barbatana foi brilhante volante na década de 1950. Apesar do sucesso, ou talvez por causa dele, sua carreira foi marcada por transferências polêmicas. 

João Lacerda Filho nascido em Ponte Nova a 11 de fevereiro de 1929, iniciou a carreira no Metalusina, de Barão de Cocais. O Estado de Minas, na edição de 11 de dezembro de 1949, anunciava o registro do contrato com o clube em que atuava como amador desde o ano anterior. Já naquela ocasião, havia equipes interessadas no volante: “Com vários clubes pretendentes ao seu concurso, Barbatana, um valor do futebol mineiro que despontou em 48 e firmou conceito em 49, possivelmente deixará Barão de Cocais para ingressar no futebol carioca ou paulista.” O jogador, no entanto, somente se transferiu para o Bangu em 1951. 

Depois de duas temporadas na equipe carioca, e apenas 17 jogos, segundo o site Bangu.net, Barbatana regressou ao futebol mineiro. Ainda preso ao clube de Moça Bonita, chegou a treinar no Cruzeiro, mas acertou mesmo com o Villa Nova, em julho de 1953. Entretanto, sua contratação teria sido fechada sem a aquiescência do presidente Cecil Jones, conforme publicado pelo EM no dia 29 daquele mês. 

Em sua passagem pelo Leão, surgiu a possibilidade de se transferir para o Atlético, clube que já havia defendido em excursão à Europa em 1950, emprestado pelo Metalusina. Segundo o EM de 1º de junho de 1955, seria bom negócio para as três partes. Para o Villa, significaria alívio em sua combalida situação financeira, uma vez que se tratava de jogador caro. O Atlético buscava substituto para Zé do Monte, que decidira abandonar o futebol, posição revista posteriormente. 

Barbatana morava em Belo Horizonte, era sócio da Confeitaria Marrocos e via com dificuldades ter de viajar a Nova Lima para treinos e concentração. Em 3 de junho, o EM publicou em manchete a ameaça do jogador: “Se o Villa não negociar meu passe deixarei o futebol”. O atleta explicava: “Meu contrato com o Villa está vencido desde 18 de março. As condições que me foram propostas para a reforma são inaceitáveis. Trabalho aqui na capital e não posso ausentar-me para os treinos e concentrações em Nova Lima, pois, segundo o contrato da firma de que faço parte, cabe-me a gerência daquele bar”. Apesar da ameaça, ele não foi negociado na ocasião nem encerrou a carreira.

NOVAS POLÊMICAS - O EM de 28 de abril de 1956 trouxe mais uma polêmica quanto à carreira do jogador: “Barbatana cumprirá a palavra – O pivot afirma que irá mesmo para o América”. O clube de Nova Lima tentava renovar seu contrato, mas o volante já teria assumido compromisso com o Coelho. “Empenhei minha palavra com o presidente Jorge Ibrahim e o vice-presidente Antônio Bicalho, do América, afirmando a ambos que, tão logo acabasse de disputar o campeonato de 55 pelo Villa, ingressaria definitivamente no América.” 

Depois de defender o Coelho em 1956 e 1957, o atleta criava novo problema, conforme anunciado pelo EM em 14 de agosto de 1957: “Rescindido o contrato de Barbatana”. Jorge Ibrahim anunciava que o jogador havia desfeito o compromisso com o clube e não pretendia continuar a carreira. Sua intenção era cuidar do Bar Marrocos e intensificar as atividades como vendedor da Fábrica de Cigarros Flórida. 

Mais uma vez, o volante não parou de jogar, como ameaçara. Ele jogou pelo Atlético em 1958 e 1959, totalizando 38 partidas, segundo o blog O Canto do Galo. Em 26 de agosto de 1959, o EM anunciava: “Afasta-se Barbatana dos gramados: não vai reformar com o campeão de 58”. “Um dos ‘players’ que ocupou por mais tempo (o meio-campo atleticano) foi o clássico Barbatana, cuja contratação causou controvérsias em Lourdes. Não obstante, quando era chamado a intervir, desincumbiu-se bem da sua missão”, elogiava o texto. 

O Atlético até havia conseguido segurar o volante, depois do fim do contrato, para a melhor de três com o América que decidiria o Mineiro de 1958. Mas, após a conquista do título, Barbatana não mais retornou a Lourdes. Sua última partida com a camisa alvinegra foi a vitória por 1 a 0 sobre o Coelho, em 23 de abril de 1959.

(Texto de Eugênio Moreira para a sessão “Um Momento na História” do jornal “Estado de Minas” de 01/06/2011)